Isso mesmo, meus caros comparsas, eis que retornamos após um breve período de pura estagnação nérdica, devido a atividades outras que não fossem ligadas ao temido Exame de Ordem – a famigerada prova da OAB.
Por sinal, reunamo-nos à boa mesa farta de delícias quentes, saborosos cafés e torçamos por mais essa conquista (expectativa para a divulgação do resultado que sai dia 13 próximo, e quem fez Direito Civil boa sorte aí).
Da mesma forma, voltamos à nossa habitual coluna quinzenal.
Novos temas transbordam sua secura em virar tinta no papel, e será o que faremos desde já. O primeiro deles é exatamente o título que estampa nossa cafeinada coluna.
A pergunta epigrafada é deveras oportuna, ao tempo em que já estamos mais da metade do ano. Desde logo, ambiciona uma resposta adequada, mas na falta desta podemos tentar argumentar possíveis soluções.
Pense e responda: o que podemos esperar das histórias em quadrinhos na década vigente, especificamente falando do gênero heroico? Qual seria o perfil dos roteiros e dos desenhos? Já é possível antecipar um panorama conclusivo, o mais fiel possível a este aspecto, ou ainda teremos de esperar o avanço de alguns anos para amealhar ares perenes nesse sentido?
Hoje, gostaria de “estender” o texto nos comentários, com um saudável debate com os internautas mais interessados.
Sendo pacífico o entendimento de que o gênero teve início em 1938 – ano de lançamento da famosa Action Comics #1 e de seu principal ícone, o Superman, ocasionando no que se convencionou chamar de Era de Ouro –, lá se vão sete décadas preenchidas com altos e baixos nesse segmento de mercado.
E cada um destes períodos foi devidamente pontilhado por notórias características na confecção de suas obras.
Desse citado final dos anos 1930 até meados da década de 1950, um par de momentos distintos merece vitrine: o sucesso arrebatador durante o conflito mundial e consequente ostracismo pós-guerra, ocasionando o período de “caça às bruxas” pela sociedade americana.
O final da década seguinte (1960) marcou um forte ressurgimento, pautado na era de pesquisas atômicas e na guerra fria a esquentar os ânimos. Os anos 1970 viram os “supers” darem uma guinada sensacional na qualidade das histórias, focando aspectos realistas e temas polêmicos que tiveram seu embrião na década anterior. Vieram os anos 1980, o clima violento pegou. O tom sombrio, as cores escuras, personalidades dúbias e verdadeiras obras-primas que se destacaram frente ao mercado literário, renovando o conceito de HQs para o público em geral.
Nos anos 1990 – a década que a maioria quer apagar da memória – foi um reflexo mal feito do sucesso conquistado antes. Poucas obras se salvam no roteiro, e a arte… Bem, creio que nem precise tecer maiores comentários (com RARAS exceções).
Enfim, chegamos aos anos 2000. Bom, o que posso dizer a respeito?
Dois aspectos que saltam à vista.
Primeiro: o mainstream absorveu e espelhou gradativamente o pessimismo da realidade social. Tipo “dane-se, o mundo é assim mesmo, estamos numa batalha sem vitórias à vista… Mas continuamos batalhando, mesmo assim”. Surgiu a onda do realismo a todo custo, da verossimilhança nos roteiros e do constante uso de princípios/assuntos de temática filosófica, política, científica, econômica e sociológica como esteio na confecção das tramas.
Séries pioneiras dessa etapa (The Authority e Planetary, por exemplo, ainda que tenham surgido nos anos finais da década anterior) trouxeram heróis desgarrados daquele conceito maniqueísta e propósitos estritamente altruístas, como era no passado.
Isso voou para as outras séries de colantes coloridos e a aterragem escancarou histórias onde famosos vigilantes da Marvel e da DC confrontavam tais temas.
Segundo: a nostalgia veio com tudo.
Heróis mortos voltaram, eventos considerados imutáveis foram mudados, origens “definitivas” foram recontadas. Tudo para agradar a maioria do público – que beira a faixa dos 35 anos, senão mais, devido à falta de políticas para renovação dos leitores.
Repaginações dos conceitos dos heróis (reboots?) seria signo do apego a uma época de extremo saudosismo, ou tão somente com intuito comercial? Ou os dois aspectos podem conviver juntos?
Novas origens ou falta de originalidade. Eis a questão.
Esses são dois temas que sempre vejo nas entrelinhas de qualquer nova notícia do gênero. Na ânsia do mercado em querer “rebobinar” o que tem feito, o próprio mercado vai se reciclando como pode.
O que acha disso tudo, caro leitor?
NOTA: você pode ler mais sobre assunto aqui.